A Diversidade nos conselhos de administração: superar a tendência do “Mini-me”

10 de fevereiro de 2025
Escrito por Helena Ravara

Desde 2017, em Portugal, a representatividade de género nos órgãos de administração do setor público e nas empresas cotadas em Bolsa é regulada por um regime específico. Mais recentemente, em 2022, o Parlamento Europeu introduziu novas regras para reforçar a igualdade de género nos conselhos de administração, com o objetivo de trazer maior equilíbrio a nível europeu.

Contudo, no setor privado, particularmente nas PMEs e empresas não cotadas, estas normas ainda não são obrigatórias. No entanto, a adaptação voluntária a estas boas práticas está a ganhar tração, uma vez que o mercado exige maior sustentabilidade e uma gestão mais responsável. O alinhamento com estes princípios torna-se assim um fator competitivo crucial, tanto para corresponder às expectativas dos stakeholders como para reforçar a credibilidade e a atratividade da empresa.

Vantagens de um conselho de administração diverso

Estudos apontam consistentemente para os benefícios de uma composição diversificada nos conselhos de administração. A diversidade pode incluir vários aspetos, desde género e raça/etnia até experiência profissional, formação académica e contexto sociocultural. Quanto maior a diversidade de perfis, mais rica é a base de conhecimento disponível para a organização, o que promove a inovação e ajuda a contrariar o “pensamento de grupo”, um problema recorrente em conselhos excessivamente homogéneos.

Uma maior diversidade não só promove decisões mais ponderadas e equilibradas, como também potencia a identificação de oportunidades que, de outra forma, poderiam passar despercebidas. Organizações com conselhos diversos conseguem, assim, não só identificar riscos com maior precisão, mas também gerar ideias mais inovadoras, o que lhes permite diferenciar-se no mercado.

O impacto da diversidade na imagem

Outro ponto relevante é a relação entre diversidade e a perceção do mercado. Organizações que promovem a diversidade nos seus órgãos de administração tendem a ser vistas como mais éticas e socialmente responsáveis, um fator que influencia positivamente a sua reputação e capacidade de atração de talento. Este reflexo positivo no mercado também se traduz numa melhor performance organizacional, não só por representarem uma maior variedade de perspetivas e experiências, mas também porque são capazes de responder de forma mais eficaz às diferentes necessidades e expectativas dos seus clientes e parceiros.

Mini-me

Equilíbrio de perfis

Um conselho de administração equilibrado deve incluir perfis diversos tanto a nível pessoal como profissional. Perfis mais orientados para a inovação trazem uma predisposição maior para assumir riscos, enquanto perfis mais analíticos ajudam a equilibrar a tomada de decisão, garantindo que todas as variáveis são cuidadosamente ponderadas. Da mesma forma, é importante ter líderes focados no "bottom-line" e nos resultados financeiros, mas também aqueles que dão atenção aos colaboradores e à cultura organizacional, conscientes de que sem uma força de trabalho motivada, não se alcançam resultados sustentáveis.

Esta conjugação de diferentes perfis permite que as decisões sejam mais robustas e que o conselho funcione de forma eficaz, atendendo tanto às necessidades do negócio como ao bem-estar das pessoas que o compõem.

Evitar a tendência "Mini-me":

Um dos desafios na seleção de membros para o conselho é a tendência natural dos executivos em recrutar pessoas que sejam semelhantes a eles, o que é conhecido como a tendência "Mini-me". Esta prática é contraproducente, pois limita a inclusão de novas ideias e perspetivas.

Para evitar esta tendência, as organizações devem focar-se na avaliação por competências e potencial dos candidatos. Ao definir critérios objetivos e mensuráveis, a avaliação torna-se mais justa e reduz a influência de preconceitos inconscientes. Através do assessment de liderança, a análise pode ser mais orientada para o futuro, identificando candidatos com potencial de crescimento e liderança, independentemente das suas características demográficas.

A importância de procedimentos padronizados e avaliação objetiva

Ao aplicar procedimentos padronizados de seleção, as empresas conseguem evitar estereótipos e garantir que as suas decisões são baseadas em critérios objetivos e relevantes para a função. Esta prática é crucial para a construção de conselhos de administração realmente diversos e eficazes. O uso de assessments ajuda a identificar talentos com competências de liderança, proporcionando uma plataforma para que todos os candidatos sejam avaliados de forma equitativa.

Ao adotar estas práticas, as organizações podem não só evitar a tendência "Mini-me", como também garantir que estão a construir conselhos de administração preparados para enfrentar os desafios futuros e aproveitar o potencial da diversidade para gerar resultados sustentáveis e inovadores.

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Escrito por

Helena Ravara

Helena é licenciada em Psicologia (Ramo de Psicologia Social e das Organizações) pela Universidade de Lisboa e exerce atualmente o cargo de Head of Talent Assessment na Neves de Almeida HR Consulting. Iniciou a carreira profissional na SHL e em 1994 participou no start-up da atual RAY Human Capital em Portugal, onde exerceu funções de management e desenvolveu projetos de recrutamento e seleção, assessment centres, modelos de competências e diagnóstico organizacional. Em 2007 passou a Partner na Odgers Berndtson, com funções de gestão de operações e da equipa, para além de gerir projetos de Executive Search e Leadership Assessment.Está desde 2017 na Neves de Almeida HR Consulting, onde integrou a área de Executive Search, como Partner, e acumulou mais tarde com a responsabilidade pela área de Talent Assessment.Tem desenvolvido projetos nas áreas de Executive Search e Talent Assessment e gerido clientes de vários setores, como sejam Indústria, Farmacêutico & Saúde, Financeiro, Bens de Consumo, Serviços e Tecnologia, com projetos também em Training, Consulting e Team Building.Adora a família, conviver e viajar (também nos livros, nos filmes e na gastronomia) e para canalizar energia positiva é “yogini” desde 2007. Saiba mais

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